As origens do alfabeto

    Há 32.000 anos, nossos ancestrais se reuniam em cavernas para criar as primeiras pinturas rupestres, com cenas que retratavam a relação do homem com a natureza. O objeto favorito destes primeiros desenhos eram os bois, com estatura e força tão impressionantes que faziam com que fosse endeusado pelos homens antigos.
A princípio pode não parecer, mas essa reverência primitiva pela natureza, não desapareceu com a formação de civilizações e está presente até nos dias de hoje, escondida na linguagem escrita. Nosso atual alfabeto tem sua origem em muitos desses antigos desenhos que louvavam a natureza: os precursores de muitos caracteres da escrita moderna são encontrado nos hieróglifos pictográficos do Antigo Egito.
O símbolo para a letra 'A', na sua representação mais antiga, reproduzia a imagem do idolatrado boi, que representava 'o Grande' ou 'o Criador' e assim permaneceu quando o símbolo foi adotado - e ligeiramente modificado - pelos gregos e romanos, recebendo o nome de 'alfa', palavra que transmite até hoje a ideia de superioridade.
Nem todas as letras que compõem o alfabeto moderno têm suas formas atreladas à representações do mundo natural: o que deu origem à letra 'B', por exemplo, foi o pictograma de uma casa - o centro da letra, representando a entrada. Da mesma forma, o C representa um pedaço de corda ou, outros dizem, a corcova de um camelo.
A letra 'D' era muitas vezes representada pelo pictograma de um peixe, mas quando foi adotada pelos fenícios apenas a forma triangular da cauda foi mantida. O triângulo ganhou uma forma mais precisa como a letra grega 'Delta', até que os romanos mudaram a posição da forma e arredondaram uma de suas pontas.
Alguns acreditam que a letra 'E' foi baseada em um pictograma de representação do vento, com 3 linhas paralelas horizontais. Outros pensam que pode ter surgido a partir da imagem de uma pessoa rezando, com os braços levantados para o céu. Essa segunda figura é melhor visualizada se a letra for 'girada' 90º em sentido anti-horário.
O símbolo 'F' pode ter vindo da representação de uma clava ou gancho, enquanto 'G' foi introduzido posteriormente, no latim clássico. A forma da letra 'H' veio do hieróglifo egípcio que mostrava uma cerca; já o pictograma que originou a letra 'I' era desenhado na horizontal e supõe-se que representava um pênis ou um braço esticado. O 'J' só viria mais tarde, utilizado nos numerais romanos.
A letra 'K', na escrita egípcia, era representada como uma mão aberta. Quando o símbolo passou a ser usado pelos fenícios, cuja escrita cuneiforme dificultava o uso de formas curvadas, a mão passou a ser representada de maneira mais rústica e linear. No entanto, o símbolo final, que escrevemos hoje, veio do povo grego.
O hieróglifo da letra 'L', se parecia um pouco com uma bengala: reto com o topo dobrado. A forma foi invertida quando adotada pelos fenícios.
Quanto ao formato da letra 'M', seu formato tem uma óbvia relação com o pictograma egípcio para para água; as ondas do hieróglifo foram simplificadas primeiro pelos fenícios, depois pelos gregos.
O primeiro desenho da letra 'N' era o de uma cobra ou serpente se arrastando.Os povos semitas do Egito são os responsáveis por sua forma nos alfabetos posteriores, já que palavra dessa comunidade para 'cobra' começava com a letra.
Não é muito surpreendente que a forma do 'O' tenha sido adaptada de um  hieróglifo retratando o olho humano, mas só o que restou do desenho original foi o contorno da íris. Já o formato do 'P' só  foi desenvolvido no latim clássico.
A letra 'Q'  ilustrava um cordão de lã; quanto ao 'R', nasceu da adaptação do desenho de um faraó com seu cavanhaque.
O símbolo para a letra 'S' foi adaptado dos alfabetos proto-semita e do fenício, nos quais o desenho lembrava um '3' ao contrário e representava os seios de uma mulher. O 'T' se parecia com o que hoje usamos como símbolo de adição e era usado para indicar algo 'marcado'. Quanto ao restante dos caracteres do alfabeto, só seriam desenvolvidos posteriormente, sem mesma relação direta com as pictografias antigas das letras citadas acima. 
Todo texto possui relação com outras obras ou mesmo sentidos e origens ocultos; o fato menos conhecido é que essa teia de significados escondidos já começa nas letras que utilizamos.