Entrevista Mario Cesar Barcellos

15/06/2009 00:41

1 – Entre os católicos é comum que os santos sejam vistos como auxiliares constantes, ou seja, as pessoas pedem auxílio aos santos para questões do dia-a-dia ou situações mais extremas. Esse tipo de relação existe entre os seguidores da Umbanda e os orixás? Eles são vistos como auxiliares constantes, diários? Existem “orações” voltadas para orixás específicos, ou para situações específicas?

    Sim...Como cada um de nós é regido por um Orixá e com influência de mais três que compõem o que chamamos de Eledá (conjunto de regência da cabeça), é bem comum que façamos rezas e contemos com sua interferência em nosso dia a dia. Não há necessidade de ser um problema. Pedimos a proteção para o dia, para o trabalho, para os filhos, etc.

2 – Que tipo de poderes (ou energias) os orixás possuem? Como é a relação entre essas energias e as pessoas? Em que elas influenciam ou podem influenciar a vida das pessoas?

    Bem, é difícil avaliar ou mensurar o poder que existe no Orixá. Na verdade, cada um de nós é regido por uma força da Natureza. Quando nos dirigimos ao nosso Orixá, na verdade estamos rezando por um dos elementais da Natureza. Toda essa relação homem/Orixá está na geração de boas energias. E as boas energias são como, ou atuam como um campo de força. Isso é comum e eu mesmo sou prova disso. Parece que temos um dom para evitar certos problemas e perigos. Claro, o que tem que ser, será, mas muitas vezes nos livramos de problemas e não entendemos o por que. Isso certamente pode ser atribuído a essa energia, da qual cultivamos e acreditamos. Assim sendo, essa é uma das formas de influência na vida das pessoas que cultuam Orixás, o que não quer dizer que, quem não seja da Religião, não tenha proteção. Mas confiamos nesse “plus” que recebemos...e recebemos, acredite!

3 – Qual a diferença entre a importância dos orixás na Umbanda e no Candomblé, se é que existe?

    Não existe grau de importância entre Umbanda e Candomblé. O Candomblé traz a pureza de África nos seus cultos. Ou seja, os rituais são bem mais como diria, africanizados, mais elementares. A Umbanda é mais branda em seus rituais. Mas em grau de importância, tanto Umbanda como Candomblé não fazem distinção ou diferença. Todos são fundamentais.

4 – Na mitologia, originalmente os orixás eram pessoas comuns que foram elevadas à categoria de divindades. Essa situação tem algo a ver com o que hoje se denomina ascensão?

    Não...Por incrível que pareça, foi mais ou menos ao contrário. Orixá é Força da Natureza. Os mais velhos das aldeias, ao ensinar os mais novos, personificavam os Orixás, dando-lhes corpo, sexo, personalidade e histórias. Os anciãos ensinavam aos jovens, a valentia do guerreiro Ogun, a destreza de caça de Oxossi, a impetuosidade e bravura de Iansã e por ai a fora...
    Alguns Reis, como Reis de Oyó (cidade na Nigéria cujo patriarca é Xangô), pela valentia, pela personalidade e importância foram (e são) considerados Orixás, ou descendentes especiais do Orixá. É uma espécie de ascensão.

5 – Como uma pessoa pode saber a qual ou quais orixás ela está conectada energeticamente?

    Para conhecer o Orixá regente, somente pela consulta aos Búzios. Pela característica e personalidade, se arrisca dizer qual, mas não se confirma. Somente pelos Búzios...

6 – Por que tantas pessoas costumam associar a Umbanda e os orixás ao mal e a demônios?

    Essa associação com o Demônio é um conceito cristão. Um erro de interpretação. Principalmente Exu, que é o Orixá da fecundação, bem como Mensageiro. A ele se atribui muito mais a condição de Demônio e já li até mesmo uma comparação com os Demônios existentes com as qualidades, tipos de Exu. Um absurdo. Porém, a Umbanda e o candomblé convive bem com isso. Não gosta, claro, mas convive bem. Cristãos, principalmente evangélicos, naturalmente fanatizados pelos seus próprios dogmas, perseguem e atribuem aos umbandistas e candomblecistas os adjetivos de feiticeiros, bruxos, e macumbeiros. Mas não sabem que “makumbá” é um instrumento africano feito de bambu, que se assemelha a um reco-reco.

7 – Existem muitas pessoas na Umbanda que psicografam mensagens?

    Desconheço umbandistas que psicografam. Normalmente esse dom mediúnico acontece nas Casas Espíritas, não nos Templos Espiritualistas. Pode ser que um ou outro tenha esse dom, mas se existe, é raríssimo!

8 – Todas as pessoas que entram na Umbanda devem necessariamente incorporar um espírito?

    Não. A incorporação é um espécie de mediunidade, como existe a mediunidade de psicografia, de audição, de visão, etc. Muitos tem cargos nos Terreiros de Ogã, ou tocador de atabaques, de colhedor de ervas, etc. Nem todos incorporam.

9 – Como a Umbanda vê a questão da obsessão espiritual?

    Possessão é algo raro e muito difícil. Os relatos de possessão demoníaca são, na maioria dos casos, ou fraudes, ou verdadeiramente de incorporação de obsessores, não de demônios. Não que veja como um contracenso, a obsessão de um demônio dentro de uma casa de Umbanda, mas essa questão em muito difícil e para que aconteça, de fato, deve haver um histórico na vida das pessoa para que haja um possessão real. A Umbanda não se prende a essas questões, devido à raridade de tais acontecimentos. Mas os espíritos baixos, estes podem vir a “tomar” o corpo de uma pessoa, mas são expulsos, dentro dos rituais, com certeza.

10 – O que você pensa a respeito da abordagem que a mídia tem sobre a Umbanda e os orixás, em particular nas obras de ficção?

    Houve uma época em que não se chamavam consultores para a realização de peças ou programas que por algum motivo mostravam alguma coisa sobre religião de matriz africana. Era uma bagunça total e víamos aberrações, erros grosseiros. Hoje em dia (e há muito tempo) qualquer trabalho que envolva a Religião, existe sempre um – diria – “expert” no assunto, para que erros não aconteçam. Porém, a mídia faz do jeito que ela acha melhor e isso, em alguns casos, deturpam a ótica, o objetivo e qa verdadeira face da religião, junto à população. Mas creio que o povo brasileiro esteja mais habituado com a religião. Porém, sempre irá existir alguém que faz, para prejudicar ou denegrir...isso é normal.

11 – É possível uma pessoa “utilizar” o poder de um orixá – seja para o bem ou para o mal – ou os orixás não permitem que suas energias sejam utilizadas?

    Quando você faz um trabalho para uma pessoa, você está criando uma energia para ser direcionada. O canal de geração de energia é a força da Natureza, o Orixá, claro. Nesses casos, você está gerando uma energia positiva para alcançar um objetivo, do tipo saúde, paz interior, problemas jurídicos, financeiros, etc. Quando você busca a geração da energia na parte negra, através dos espíritos baixos, usando o lodo, a sujeira, tudo que existe de ruim, você irá gerar uma energia negativa. Mas os Espiritualistas sabe que existe a Causa e o Efeito, ou se preferir, a Lei do Retorno. Mexe com coisa ruim, quem quer. Orixá não se mete nestas horas, pois eles não foram invocados para isso.

12 – Existe diferença do termo “orixá” para a Umbanda, Candomblé e Quimbanda?

    Não. Orixá é uma palavra de origem Yorubana (Nigéria). Os Angolas (Angola e Congo chamam Orixá de Nkisse e os Ewé-Fon (Togo e República do Benin) chamam de Vodun.

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