Os Números Sagrados de Pitagóricos

13/12/2008 22:23

 

Quando se fala sobre a origem da Numerologia, Pitágoras é constantemente citado como o seu criador. Mas os Números na filosofia pitagórica têm numa dimensão muito diferente da que é considerada na Numerologia. Mostro aqui a relação entre o pensamento grego e a concepção dos Números Pitagóricos.


    Até o século VII a.C os gregos tinham uma explicação mitológica para todos os acontecimentos – tudo o que ocorria estava relacionado às vontades, humores e paixões dos deuses do Olimpo. Assim, era importante conhecê-los em suas particularidades a partir dos seus mitos e estórias, coletadas e contadas pelos poetas Homero e Hesíodo. Grandes templos eram construídos para cultuá-los; era necessário agradá-los com sacrifícios e oferendas, para que os homens pudessem fugir de sua ira e obter seus favores.

    Mas neste período surgiram os primeiros filósofos na Jônia, colônia grega na costa da Ásia Menor ( atual Turquia ), trazendo uma grande renovação no pensamento religioso da época. Delineou–se um novo enfoque para entender o universo, não mais centrado nos deuses, mas na busca de um Princípio Primeiro, que eles chamaram de Arché.

    A grande questão que mobilizava os filósofos era: de onde veio tudo? qual era a origem do universo e de tudo o que conhecemos?

    Pela primeira vez, havia a crença de que, atrás dessa aparente diversidade, havia uma Unidade Primordial, da qual tudo e todos participariam.

    Mas qual era esse Princípio Criador? Diversos filósofos desenvolveram teorias e tentaram investigar essa questão. Surgiu aqui a Metafísica, a Ciência dos Princípios Primeiros.

    Tales de Mileto foi o primeiro representante da Escola Jônica. Considerado um dos 7 sábios da Antiguidade, era astrônomo, matemático e estudou Geometria com os egípcios. É dele o provérbio “Conhece-te a Ti Mesmo”. Tales considerava que o Cosmos era Uno, e a Água era o símbolo da Unidade Primordial. Dizia também que todas as coisas estavam impregnadas do divino.

 

    Seu discípulo, Anaximandro ( também matemático e astrônomo, e da cidade de Mileto ) considerava, por sua vez, que a Substancia original só poderia ser anterior aos 4 elementos ( uma vez que o Limitado não poderia criar o Ilimitado ), e a chamou de Apeíron ( o Indeterminado, o Ilimitado ). Para ele, o Ilimitado era eterno, imortal e indissolúvel, e todas as coisa viriam dele e se dissolveriam nele ciclicamente.

    Anaxímenes de Mileto, ouvinte de Anaximandro, acreditava que esse Princípio Criador de toda a realidade só poderia ser o ar. Dizia que como nossa alma, que é ar, nos governa e sustêm, assim também o sopro e o ar abraçam todo o Kosmos.

    Heráclito de Éfeso apontou o fogo como o elemento Primordial, através do qual todos os outros elementos existiriam e se transformavam.

    Outros filósofos vieram posteriormente, mas as duas maiores influências sobre Pitágoras foram Tales e Anaximandro de Mileto.

    Pitágoras nasceu no século VI a.C em Samos, uma grande ilha próxima da Jônia, e viajou muitas vezes para lá em sua juventude, para assistir às preleções dos filósofos. Solicitou à Tales que o aceitasse como discípulo - o que Tales recusou, sugerindo-lhe que fosse ao Egito para aprender com os sacerdotes dos Templos, como ele mesmo tinha feito. Estudou ainda com Anaximandro, antes de aceitar o conselho de Tales e viajar para o Egito, e posteriormente para a Babilônia, permanecendo fora durante muitos anos. Quando voltou, quase 20 anos depois, fundou a sua Escola de Sabedoria, primeiro em Samos ( o Hemiciclo ), e posteriormente, em Crotona, na Itália, para onde emigrou.

    Como Tales, Anaximando e os filósofos jônicos, Pitágoras também se dedicou à busca da origem das coisas, e para ele, os Números eram os Princípios Criadores de toda a realidade.

    Quando ele afirmou que todas as coisas são Números, ele dizia que os Números eram princípios universais, que tinham uma dimensão sagrada e que estavam relacionados a todos os aspectos da vida do homem.

    Pitágoras e seus discípulos estudavam a Matemática e a Geometria ( disciplinas importantes na educação grega no século VI a.C. ) em sua sociedade, mas trouxeram uma nova dimensão à essas ciências.
    Para eles, os Números não estavam associados apenas à função quantitativa, mas representavam também idéias abstratas e forças criadoras do universo. A Matemática se unia à filosofia na busca das leis invisíveis que regem o universo.

    Os pitagóricos relacionavam também os Números à formas e diagramas geométricos, procurando utiliza-los como modelos do Todo Cósmico e da Ordem Celestial. O estudo da Geometria buscava compreender como o universo é ordenado.

    Pitágoras utilizou a palavra Kosmos, que significa “mundo ordenado” e “ornamento”, e relacionou-a ao universo, trazendo a noção de que o universo é maravilhosamente ornamentado com ordem.

    Conhecer o Kosmos era buscar e compreender os elementos divinos do universo.

    O mundo, assim, deixava de ser domínio de forças obscuras ou dos deuses, e tornava-se transparente ao espírito, à medida em que essa ordem cósmica poderia ser alcançada pela Razão.

    Desta forma, os pitagóricos vivam em comunidade, dedicando-se ao estudo dos Números. Conhecê-los, através da Matemática e da Geometria, habilitava a mente “terrena” a compreender a maneira como o universo era ordenado e sustentado.

    E ainda mais: acreditavam que, à medida em que o homem é um microcosmos que contém todos os elementos do universo maior, ao buscar compreender os Princípios Universais que constituem o Kosmos, ele poderia alcançar o objetivo maior de todo pitagórico - realizar em si mesmo o Divino.

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