Perseverança

01/03/2010 05:04

Fernanda Leite Bião[2]

Não pretendo dizer que já alcancei (esta meta) e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho em conquistá-la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo.

Consciente de não tê-la ainda conquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para a frente, persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo. Nós, mais aperfeiçoados que somos, ponhamos nisto o nosso afeto; e se tendes outro sentir, sobre isto Deus vos há de esclarecer.

Contudo, seja qual o grau a que chegamos, o que importa é prosseguir decididamente.[1]

― Paulo de Tarso (Epístola aos Filipenses, 2.12-16)

 

 

 

 

Reencarnar é como ser lançado ao mundo com um mochilão nas costas cheio de apetrechos (nossa bagagem existencial), porém sem mapa nem bússola (reencarnamos desprovidos da lembrança exata dos compromissos assumidos com a espiritualidade e dos desafios desta encarnação). Temos de utilizar os apetrechos (virtudes, aptidões e potencialidades) da melhor maneira possível, mas nem sempre conseguimos. Mesmo assim, é preciso perseverar, a fim de abrir possibilidades para o devir – virtude necessária para o aprendizado de novos e constantes repertórios comportamentais.

Na senda evolutiva, as virtudes bailam em comunhão com os vícios presentes na condição humana. Entretanto, somos convidados constantemente à tarefa do melhoramento íntimo e de construir e aperfeiçoar o projeto de vida, conhecendo a realidade por meio das necessidades e possibilidades presentes em nossa jornada, desafiando os sedutores convites dos caminhos fáceis, que podem nos levar a um destino ilusório – a porta larga.

O desenvolvimento da perseverança nos faculta habilidades, para que possamos realizar escolhas mais condizentes com o nosso projeto existencial, o que vai contribuir não somente com o crescimento individual, mas com o crescimento dos entes que nos cercam.

A vida é uma espiral que espera de nós o envolvimento e a colaboração, para se movimentar de forma que seja alcançada a finalidade maior: a evolução de todos. Salienta Joanna de Ângelis:

 

Avançando lenta e seguramente, aprendendo com as forças vivas do Universo, entesoura os recursos preciosos do conhecimento que lhe custou sacrifícios inumeráveis no longo curso das experiências e agora se interroga a respeito da finalidade de todo esse curso de crescimento, descobrindo, por fim, que se encontra no limiar das realizações realmente plenificadoras e profundas, porque são as que significam libertação dos atavismos remanescentes, ampliando as aspirações na área das emoções mais nobres, portanto, menos afligentes, aquelas que não deixam as sequelas do cansaço, da amargura ou do desânimo.[3] (grifo original)

 

Busquemos conhecer as dúvidas, os medos, as angústias e as necessidades que são parte de nós. Estejamos conscientes da presença de inúmeras patologias sociais que interferem de forma singular em nossos comportamentos e vivências.

As dimensões superiores não estão fora de nós. Estão dentro de cada coração, que guarda a chama da energia divina em latência, herança sublime do Criador, causa primeira da nossa existência.

Exercitar o autoconhecimento significa pensar sobre o si (história passada, pretérita e futura), as construções das instituições sociais (família, escola, relações sociais) e a nossa identidade como Ser. 

No momento em que realizamos a tarefa do autoenfrentamento, a cortina das ilusões (que não permite que possamos ver a nós mesmos) começa a se transubstanciar, gerando um momento de estranhamento.

Começamos a estranhar o que não conhecemos em nós. As ilusões mascaram o momento do autoencontro. Eclodem conflitos íntimos que se projetam no exterior. Por vezes, queremos mudar e não conseguimos. Muitos corações esforçados se perdem nesse momento, no qual ocorre o autoencontro, quando a perseverança floresce, a esperança (re)nasce e o autoconhecimento prossegue, acompanhado do enfrentamento dos desafios, resultando no crescimento de cada um.

A verdade liberta. Não a verdade de outrem nem a verdade que o mundo criou para nós, mas a verdade que habita o nosso Ser e que é nossa tarefa descobrir. De nada adianta ditar normas e construir formas de condutas que receitamos aos demais, ao mesmo tempo que as rejeitamos para nós.

Conscientes da importância de evoluir e dispostos a nos renovar, candidatamo-nos à entrada nos portais do conhecimento, do aprendizado e das modificações interiores, capazes de promover mudanças vibracionais em nosso íntimo e em nosso círculo de relações. Ensaiamos para ser pérola em meio ao nácar, vencer as resistências às mudanças e ter coragem para sair de um lugar que, embora seguro, já não contempla nossas necessidades existenciais.

O grande laboratório humano se constrói dentro de cada ser, universo particular a interferir no universo coletivo. O exemplo da conduta posta em prática não apenas teorizada é a força mais poderosa de progresso social.

 

 


[1] BÍBLIA SAGRADA: edição pastoral-catequética. 168. ed. São Paulo: Ave Maria, 2005, p. 1.506.

[2] Trabalhadora espírita em Sabará (MG). Acadêmica de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: fernandabiao9@hotmail.com.

[3] FRANCO, Divaldo. Vida: desafios & soluções: pelo espírito Joanna de Ângelis. 8. ed. Salvador: LEAL, 2006, p. 28-29.

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