A Gravidez de 21 meses

11/04/2009 03:29

    O pensamento simples não consegue explicar todas as questões que ocorrem no psiquismo do ser humano. O pensamento complexo é complexo demais e o sistêmico é o que nos permite, um pouco melhor, falar do processo evolutivo desta humanidade terrestre. Mas, para facilitar vamos tornar a leitura mais simples e acreditar que nascemos sem informações, uma “tábula rasa”, e vamos construir nosso psiquismo a partir de uma vida.
Inicialmente imaginemos uma pessoa como uma indústria com grande capacidade de expansão que inicia suas atividades com um prédio pequeno, limitado a área administrativa. Neste pequeno espaço a indústria vai organizar as áreas produtiva, operacional, comercial, financeira e administrativa.     A região onde esta indústria fictícia se instala já começa a definí-la, pois dependendo do que ela irá produzir toda a infra-estrutura do entorno também precisa se adequar. E, à medida que ela se estrutura adequadamente, mais serviço chega e mais produto sai. A indústria se expande e todos ao redor também.
    Mas imaginem que alguém construa uma indústria de produtos metálicos em um terreno inclinado, de um morro no meio da mata, onde não exista qualquer infra-estrutura como estradas, fornecedores ou clientes. Os equipamentos necessários para a produção não conseguem ser entregues, a matéria prima também não, o prédio está pronto, mas o objetivo inicial não tem como se manifestar. Provavelmente terá que se adequar aos recursos da região.
    Um pouco parecidos com isso somos nós, com todo respeito a nossa complexidade.
    Nascemos com todo potencial para manifestarmos a Totalidade, pois afinal, somos seres de Luz manifestados na multidimensionalidade. Mas para que toda possibilidade de manifestação se expresse, nosso corpo físico e psíquico (não gosto de separar os dois) precisam se desenvolver adequadamente. E isso vai depender, e muito, do sistema familiar no qual esta criança nasce. Existem famílias que facilitam muito esta potencialidade e outras que atrapalham muito também. Como fazem parte de um sistema que está incluído em outro sistema ao infinito, todos estão vivendo algo parecido. Daí as identidades comportamentais familiares, sociais, culturais e humanas.
    A dificuldade que a criança tem de sentir e revelar o que está sentindo tem origem no Medo. Aliás, podemos dizer que o medo é o grande vilão, pois dele se originam todos os conflitos que o ego terá. É o medo da finitude que podemos entender desde a criação do ego, quando este se sentiu separado do Todo, até este medo que se repete em cada manifestação nesta dimensão, ou cada vida.
    A gravidez humana dura 21 meses. 9 meses dentro do útero materno e 12 meses fora dele, enquanto a criança não tem seu sistema nervoso desenvolvido o bastante para procurar alimento. É a qualidade desta gravidez, tanto intra como extra-uterina que fará toda diferença. Quando a criança humana sai do útero, diferentemente dos animais, ainda não se provê. Necessita de forma absoluta de alguém que cuide dela. Um cuidador(a) disponível e atencioso(a).
    A criança aprende que se ela não for vista, reconhecida e amada por alguém, ela morrerá. Esta informação será gravada no nível que ela pode gravar qualquer coisa que é o seu sistema sensorial. Isso fica impregnado em seu corpo físico e caso a informação seja ameaçadora, tipo, não tenho quem cuide de mim, isto vai prejudicar seu desenvolvimento, pois estará sempre ocupada com artimanhas para conseguir seu intento que será sempre: ser reconhecida, cuidada e sobreviver.
    Não sendo alimentado eu morro; não sendo cuidado eu morro; não sendo reconhecido eu moro.
    E cada vez vão se sofisticando mais as necessidades que a própria personalidade cria. Basicamente não sendo reconhecido eu não serei cuidado, alimentado e morrerei. Sofistiquemos o sentido destas palavras e veremos necessidades cada vez mais diferenciadas e exóticas da mente humana ou do ego.

_ Reconheça que eu sou bom, reconheça que eu sou forte, reconheça que eu sou sereno, reconheça que eu sou mau. Reconheça qualquer uma dessas coisas senão eu morro...

    Essa é a dinâmica simplificada do ego. Mas a construção das máscaras pode ser tão sofisticada que, em geral, as pessoas não conseguem identificá-las.

_ Máscaras, eu? Não, eu não tenho máscaras. Eu sou assim mesmo...

    Esta é uma das máscaras mais comuns: afirmar que não tem máscaras.
    Existem vários requisitos para acessarmos as falhas operacionais do nosso psiquismo, mas a primeira delas é a Vontade de se reconhecer e transformar. Quem está feliz com a sua máscara e/ou nem a reconhece não tem porque desmascarar-se. Tudo bem, esta pessoa vai ficar nisso por toda esta vida, mas tem a eternidade e poderá mudar quando quiser.
    Outro requisito é a Honestidade para se reconhecer. Muita gente fala que quer mudar e precisa, mas, na verdade quer que o sistema mude. A pessoa quer que o cônjuge mude, o emprego mude, o trânsito mude, o país, o mundo todo mude, mas ela não quer dar um passo na direção de si mesma.
    Reconheço que é um grande trabalho, mas que todos precisam iniciar. Este é o processo evolutivo da humanidade em si mesmo: desvencilhar-se dos aprisionamentos promovidos pelos egos e manifestar a Totalidade que é.

Afinal quem é você?

        Você é isso que acredita que é? Não, isso você não é!
    Então, olhe para dentro de você, reconheça todo potencial de manifestação que há em você. Caso possa descobrir o que causou a limitação, ótimo, mas não espere por isso. Faça a mudança agora, faça acontecer agora.
    O que você quer ser agora? Seja!
    O que você quer manifestar agora? Um ego limitado, com medo, mesmo que bonito, sereno, amoroso? Ou tudo isso e muito mais, de forma livre e sem necessidades?
    Caso você precise “ser alguma coisa”, então isso é necessidade do ego. O Ser Superior não tem necessidades, Ele apenas É.
    E você também é este Ser Superior.
    Então pergunto mais uma vez: quem você quer ser agora?

QUEM SOU EU?...


Quem sou eu?
Que sou sólido e líquido
Rígido e macio
Perecível e perene...
Mineral?

Quem sou eu?
Que nasço e morro
Dou fruto e flor
Sou grande e pequeno...
Vegetal?

Quem sou eu?
Que ando e paro
Caço e sou caça
Durmo e acordo
Dou cria...
Animal?...

Quem sou eu?
Que penso, logo, existo.
Falo e Ouço
Amo e odeio
Rio e choro...
Homem?...

Quem sou eu?
Que sou a rocha e a flor
A lesma e o pavão
O vento, a chuva
O rio e a montanha...
Sou a terra e a minhoca
e o húmus que alimenta a terra
e que me alimenta
Eu sou o Sol, o Céu...
e o Arco-Íris.
Sou o dia e a noite
o homem, a mulher
e o filho.
Eu sou o olho e a lágrima.
Sou a parte e o todo
Sou o Um e o Nenhum
Homem e Deus
Ego e Ser...

Quem sou eu?
Que me manifesto, e sou Imanifesto...
Eu Sou...

Paulo Montenegro Sloboda é médico, fundador da Escola de Desenvolvimento Multidimensional - EDEM e escritor.
www.edembrasil.com
paulo@edembrasil.com

 

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