Educação Espiritual - O Chamado do Espírito

01/03/2010 04:22

“Quem conhece a Verdade age corretamente, quem age corretamente encontra a Paz, quem encontra a Paz irradia Amor, quem irradia Amor expande-se por toda a Criação”.

Sathya Sai Baba

O chamado do espírito é o chamado de Deus, por isso repercute não apenas no coração dos indivíduos, mas ressoa construindo o novo e recriando a vida. É uma convocação que provoca transformações estruturais na consciência das pessoas e descortina horizontes amplos nascidos do refinamento da qualidade do nosso olhar. Isso se reflete na convivência em família, no trabalho, nas missões das empresas, instituições e governos e segue se amplificando planeta afora. A partir daí existe o reconhecimento da importância do espírito como fonte de tudo que existe e buscamos a comunhão com o divino pelo exercício pleno da nossa humanidade. Descobrimos cheios de gratidão que o divino se manifesta no humano e procuramos nos tornar dignos dessa dádiva. Isso não significa fugir do mundo, mas uma nova maneira de ver, sentir e estar no mundo. A Fé em Deus se enraíza na autoconfiança na fé na vida, e a pratica cotidiana dos valores humanos é o ponto de partida. A personalidade entra em sintonia com a alma e acontece o casamento sagrado entre a matéria e o espírito e as ações são corretas, competentes e criativas. O espírito então é libertado pela matéria ao libertar a matéria pelo espírito. O homem natural deve se unificar ao homem cerebral e espiritual para que essa sagrada alquimia aconteça. Nas diferentes etapas dessa alquimia interior, os valores e as idéias regem o comportamento dos indivíduos. Vivendo valores humanos assumimos um compromisso com o autoconhecimento e autotransformação para poder contribuir com a transformação da sociedade e do mundo. Muitas pessoas ainda pensam que espiritualidade é algo estranho e misterioso e uma maneira de negar a realidade cotidiana, uma válvula de escape dos problemas e necessidades materiais naturais, o que é uma forma de ser infeliz e de separar Deus do mundo, e essência de conteúdo. Também é comum pensar que religião e espiritualidade são a mesma coisa. A religião embora nasça do anseio legitimo de buscar e abrigar-se no Principio Criador resulta em sectarismo, numa visão fragmentada e particularizada que exclui o diferente e desconhecido. A espiritualidade é a percepção e o sentimento da totalidade, da interdependência e da unicidade profunda das diversas manifestações do Criador e Suas criaturas. Pela espiritualidade a vida torna-se sagrada porque compreendemos que a natureza é a roupagem externa de Deus, e que o nosso semelhante somos nós, apenas com outro corpo e outro nome. A ilusão nasce de si mesma e alimenta a ignorância que nos separa uns dos outros pela identificação com a forma física, nome e função. O despertar da espiritualidade ajuda a superar a barreira imposta por essa identificação e sentimos a interdependência e a unidade original. O sentimento de que nada existe no universo e na natureza que não faça parte integrante do divino, e que não seja uma maneira de alcança-Lo, nos permite ver a ordem universal em tudo e todos, assim como os laços que nos unem ao mundo natural e ao cosmos. Por lei o ensino religioso, durante algum tempo tornou-se obrigatório nas escolas, atualmente é opcional. Eu prefiro chamar de educação espiritual. A formação religiosa do professor não pode priorizar essa ou aquela religião. É importante salientar a unidade interna entre elas e desenvolver a compreensão de que os rituais e orações diferem, mas os valores e objetivo final são os mesmos. Mostrar as crianças que o poço do semelhante embora tenha forma diferente também contém água pura elimina preconceitos. A apropriação de Deus é o oposto da verdadeira religação, porque nutre o egoísmo que pretende sujeitar a obra divina ao interesse mundano e a ganância dos homens. Para alguns a educação espiritual é dispensável, ou deve ser encarada como um adereço supérfluo na formação cultural dos indivíduos. Porém, sem a espiritualidade não se manifesta a excelência humana e essa deve ser a meta da verdadeira educação. O vazio espiritual endurece o coração das pessoas e reduz a importância de nascer humano. A visão materialista e utilitarista da vida tende a erodir a moralidade e a ética porque desconhece que os valores espirituais são a pedra angular da consciência e os valores éticos, a expressão do caráter. A ética sem a espiritualidade é um código de valores formais apenas, e não expressa a totalidade da dignidade e generosidade humanas. A insipidez, o individualismo e o imediatismo assim como a violência se instalam quando desconhecemos a grandeza da alma. Valores humanos não são um embasamento teórico, nem uma disciplina a mais no currículo escolar, é o que somos, e o que nos define como seres humanos. A pratica cotidiana dos valores revela que não há determinismo nos assuntos humanos, e que o cultivo do equilíbrio emocional é o primeiro passo para o auto-aprimoramento e construção da cidadania. Sejam quais forem o conhecimento formal ou a vivencia que um homem tenha, o seu verdadeiro progresso está na pureza do seu coração e na lisura do seu caráter. Educar em valores humanos tem um propósito espiritual amplo e transformador, a habilidade da mão e do cérebro deve ser guiada pela consciência. Professores, pais e alunos vivendo valores humanos tornam-se parceiros de aprendizado e transmissão do conhecimento-sabedoria. O racionalismo iluminista e mesmo o humanismo passam ao largo cada um a sua maneira do que é fundamental e permanente: o espírito. Tudo no mundo é educação, e o conhecimento mundano é importante, mas é mutável e formal. Sem a espiritualidade a educação pode oferecer ao mundo homens e mulheres polidos e instruídos, mas que desconhecem a sacralidade da vida e que a felicidade é uma virtude. O propósito de educar em valores é formar seres humanos íntegros, amorosos e felizes, competentes para servir a sociedade movidos por propósitos grandiosos e dignos. Educar em valores é uma proposta educacional que prioriza os valores espirituais eternos como o lustro e o lastro da razão e contempla as dimensões material e espiritual do ser humano. A forma de educar é mutável e o conhecimento secular cientifico também, mas o conhecimento espiritual é permanente porque se enraíza nas qualidades internas, inerentes ao coração, tais como a Verdade, Retidão, Paz, Amor e Não-Violência, virtudes que não têm forma, sendo, portanto imutáveis. Unir o conhecimento técnico e cientifico ao conhecimento espiritual pela vivência dos valores humanos possibilita educar para ser e fazer feliz. Qual o propósito da verdadeira educação? Educar para que? Para ganhar a vida apenas ou para viver, reverenciar e contribuir com a vida como agente de transformações? Sem os valores humanos que são a espiritualidade posta em ação edificamos sobre areia movediça. Educar para transformar, não é adestrar e moldar para adaptar e conformar. Todos nós queremos mudar esse modelo impiedoso de sociedade onde a política de exclusão e a economia de exceção fomentam corrupção e violência extrema. É preciso lembrar que só aparece um novo padrão quando inserimos elementos novos a um contexto anterior o que implica novas organizações e conceitos. Os valores humanos como eixo em torno do qual gire a educação será certamente um elemento desencadeador de uma nova qualidade de convivência humana e das relações com a produção, a economia, e os recursos naturais. A força interior nasce do espírito como expressão natural da nossa humanidade por isso respeita a natureza e todas as raças, religiões e culturas, porque busca o encontro e não o confronto. O coração humano não conhece fronteiras e uma mente clarificada e reverente compreende que as diversas religiões são caminhos respeitáveis, na diversidade das escolhas humanas, e que os valores espirituais universais constituem o denominador comum a todas elas. Enquanto o ser humano existir, a variedade e originalidade da sua fé e expressão criativa serão o sal da vida. Trazer Deus de volta a nossa vida e ao mundo sem doutrinação ou catequese, despertando o sagrado e a consciência da unidade na diversidade pela vivência dos valores humanos é uma contribuição eficaz para que possamos realizar o que para muitos ainda parece impossível, um mundo melhor.




Marilu Martinelli




Marilu Martinelli: Jornalista. Educadora. Escritora. Consultora Educacional para Formação de Educadores em Valores Humanos. Consultora Organizacional para Desenvolvimento Humano e Capacitação de Lideranças e Voluntários em Valores Humanos. Professora de Mitologia Universal e Filosofia Oriental. Livros publicados no Brasil e na Argentina. Títulos: Aulas de Transformação, Conversando sobre Educação em Valores Humanos, Ética,Valores Humanos e Transformações. De Marilu para Seu Grande Mestre. Pondo o Amor pra Trabalhar, e O Espírito e o Mundo ( no prelo).




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